Walter Benjamin e a Educação

Entidade:
ABRAPEE

Coordenador(a):
Marie Claire Sekkel

Financiador do coordenador:

Resumo:
Este simpósio busca discutir algumas ideias de Walter Benjamin, relacionadas à formação de professores, às práticas educativas e à convivência no ambiente escolar/universitário. Walter Benjamin, filósofo e crítico literário alemão, foi um autor cujo pensamento crítico e aguçado penetrou profundamente nas questões do seu tempo, extraindo leituras potentes e originais, cuja atualidade se mantém em nossos dias. Benjamin produziu muitos textos sobre assuntos diversificados, que compõem uma construção em mosaico, e que, direta ou indiretamente, estão relacionados aos temas educacionais. As falas neste simpósio abordarão assuntos relacionados à educação infantil, ao ensino fundamental e ao ensino superior.

Eixo:
II – Práticas Profissionais da Psicologia em contextos sem muros

Processo:
Processos Educativos


Apresentações:

Walter Benjamin e a vida dos universitários
– Maria Luisa Sandoval Schmidt
A instituição universitária, em sua existência secular, viveu inúmeras crises e transformou-se em resposta a essas crises, sobrevivendo até os dias de hoje. No contemporâneo, as universidades apresentam-se como edifícios modernos e modernizados, construídos sobre ruínas e fragmentos de suas bases tradicionais. A elas é possível aplicar a ideia de uma empreitada civilizatória que, ao mesmo tempo, denuncia a barbárie. A presente comunicação serve-se de um comentário do texto de Walter Benjamin, “A vida dos universitários”, escrito em 1915, buscando compreender a experiência universitária moderna pelo viés singular e original do autor. Alguns temas se destacam como a crítica à formação de profissionais no ensino universitário e à falta de compromisso erótico de estudantes na relação com o conhecimento; a exigência de criação que condiz com a ciência, sua raiz na infância e sua demanda por e para a juventude; o espírito universitário apartado da amizade, da solidão e da disciplina, dissipado na confraternização e na sociabilidade, entre outros. O texto benjaminiano pode ser lido como uma provocação, como ensejo de desnaturalização de modos de conceber e praticar o ensino e a convivência universitários que ao abraçarem o afã do progresso, ameaçam a vida propriamente intelectual a que a universidade se destina.

Um olhar para o cotidiano escolar
– Daniela Pannuti
O trabalho explora a vida na escola sob a ótica das relações de semelhança, alicerçadas nas ideias de Walter Benjamin, cuja obra evidencia a importância da experiência e da mímesis como parte do processo de constituição do sujeito e acesso à cultura. A busca por tais relações no cotidiano da escola abre brechas para interações baseadas no respeito, cuidado e acolhimento que caracterizam os encontros verdadeiros, num contexto que viabiliza aprendizagens significativas em múltiplas instâncias. Ao mesmo tempo, leva a questionamentos sobre o atual estado de coisas em nossos espaços educativos, marcados pela competição e pela indiferença em relação ao sofrimento do outro. Resultados de pesquisa indicam que as relações de semelhanças percebidas na escola se apresentam de forma intensa, porém demandam sintonia para acessá-las e torná-las visíveis, dado seu caráter fugidio. Para tanto, ressalta-se a importância de professores atentos a esta dimensão potente da realidade escolar, por vezes escondida pelo cotidiano truculento. A faculdade mimética possibilita o reconhecimento e a produção de relações de semelhança e a abertura a tais relações cria oportunidades de transformação, trazendo vida e invenção ao universo escolar.

A escola como lugar de experiência e memória
– Marie Claire Sekkel
O conceito de experiência ganha destaque nos escritos de Walter Benjamin, juntamente com a constatação da morte da experiência na modernidade. A tradição se esvai no mundo acelerado pela necessidade de novidades. Aquilo que vivemos não nos marca enquanto experiência, não temos mais do que nos lembrar, e o mundo vai deixando de fazer sentido. A busca pelo sentido da vida é fortemente sentida na atualidade. Esta comunicação pretende discutir a relação entre a experiência e a memória no ambiente escolar, dando destaque para as atividades relacionadas à constituição do sujeito e os registros institucionais. Ao perceber e produzir relações de semelhança nos constituímos enquanto sujeitos e damos sentido à nossa experiência no mundo, criamos marcas que passam a fazer parte da nossa história, bem como da história da instituição e daqueles com quem ali convivemos. É importante que a escola abrigue esses registros e os disponibilize de forma permanente e aberta ao acesso de todos, estudantes e profissionais, que por ali passaram.