Psicoterapia, neuropsicologia e subjetividade: uma vivência experiencial pelo Método Ramain

Entidade:
ABRAP

Coordenador(a):
Maria Clara Nassif

Financiador do coordenador:

Resumo:
“Toma-se o conceito de psicoterapia no sentido de cuidados não visando atacar um mal preciso mas assegurar à pessoa a ajuda da qual ela tem necessidade para evoluir em um mundo complexo e encontrar as condições que favoreçam o seu desenvolvimento (Fajardo, G.;1994).
Busca-se apresentar o Método Ramain discorrendo-se sobre três aspectos congruentes à dinâmica buscada pelo processo psicoterapêutico em grupo. 1- Os eixos metodológicos: cognitivo-sócio-emocional e fenomenológico. Explicita-se como a flexibilidade mental desencadeia-se a partir da quebra de estereótipos mentais e possibilita o diálogo livre entre emoção e razão, favorecendo do processo elaborativo. 2- O valor emocional da experiência como fonte do conhecimento verdadeiro, conforme Simonne Ramain. 3- A partir de um relato em primeira pessoa, discutir como a formação do psicoterapeuta Ramain metaboliza a vivência experiencial em elaboração fundamentalmente emocional.

Eixo:
II – Práticas Profissionais da Psicologia em contextos sem muros

Processo:
Processos formativos, processos terapêuticos, processos grupais


Apresentações:

Uma condição essencial para a evolução pessoal: a flexibilidade mental
– Maria Clara Nassif
Esta fala considera: 1) O desencadear da mobilidade mental como fundamental à emergência do processo de desenvolvimento humano, dando relevo à integração emoção-razão como base do processo de elaboração mental. 2) Essa capacidade denota que emergiram novas percepções, e novos meios relacionais consigo, com o outro e com a realidade, geridos então por um sujeito ativo. Explicitamos como se dá o processo psicoterápico através do Método Ramain; este apresenta-se como uma proposta absolutamente original em Psicoterapia, do ponto de vista conceitual. O Método Ramain unifica dois eixos disciplinares: a) o cognitivo-sócio-emocional, abrangendo o caráter exclusivamente grupal deste método e b) o eixo fenomenológico, que remete o sujeito à sua dimensão existencial. Seu setting, também original, configura-se pelo conceito de “situação Ramain”, que contém um exercício – configurando o real – a realizar em um espaço, aqui, lugar do sujeito, lugar do grupo e, neste momento, agora, buscando liberar o sujeito do imediatismo perceptivo. Ao evocar o valor da práxis enquanto expressão da subjetividade instala-se a dinâmica psicoterápica, pela qual o sujeito é lançado face a face consigo e com o outro.

O valor da experiência numa inovadora proposta terapêutica neurodesenvolvimental
– Ana Paula Stefani
Há mais de um século diversos autores, de diferentes áreas, como da Psicologia, Sociologia e Filosofia vêm abordando a importância da experiência no desenvolvimento do individuo. A partir desse contexto, enfoca-se a conceituação de experiência na sociedade contemporânea e seu valor na situação terapêutica. Apresenta uma proposta de intervenção terapêutica, que se estrutura na situação experiencial em seu sentido genuíno. O Método Ramain, de base neurodesenvolvimental e neuropsicológica, é uma abordagem estruturada, ampla e humanista à medida que seu enfoque é relacional, experiencial e à medida que está organizado em programas específicos, respeitando a zona proximal de cada etapa do desenvolvimento. Considera a globalidade do ser humano, trabalhando simultaneamente, através de exercícios, os diferentes aspectos que constituem sua complexidade: funções cognitivas, motoras, emocionais e sociais através de situações experienciais. Do ponto de vista cognitivo, promove a reorganização, harmonização, aprimoramento e integração funcional, com ênfase no aprimoramento das funções executivas, especialmente a flexibilidade mental e a auto-regulação. Do ponto de vista sócio-emocional mobiliza a percepção de si agindo em uma situação grupal, em relação com o(s) outro(s), dinamizando os mecanismos favoráveis à sua expressão criativa e adaptabilidade ao meio ambiente. Nesse sentido, apresenta-se como o Método Ramain mobiliza profundamente os aspectos de identidade e alteridade.

A Formação do terapeuta: um relato em primeira pessoa
– Camilla Teresa Martini Mazetto
Busca-se abordar as implicações do processo de formação pessoal, experiencial, para a elaboração de uma posição de terapeuta. Esta fala conta com duas partes: 1) Apresentação de um relato em primeira pessoa descrevendo processo de formação em seu componente fundamentalmente emocional. São apresentados exemplos de situações Ramain que revelam o engajamento necessário para a formação profissional, essencialmente pessoal. 2) Discutir este relato apoiando-se nos conceitos e valores filosóficos essenciais que pautam a formação Ramain. As competências pessoais são vistas não como qualidades intrínsecas, mas como modos de relação fugazes que se estabelecem de uma nova maneira a cada instante. Assim, o propósito da formação pessoal é permitir o desenvolvimento de uma atenção ao aqui e agora, evitando a rigidez e incitando o participante a “correr o risco de sua própria autonomia”. A formação Ramain é essencialmente uma “escola da liberdade”, na medida em que deixa o campo livre ao exercício do julgamento e à determinação própria de uma decisão. O engajamento, constantemente solicitado, permite ao futuro terapeuta: a) afirmar-se como sujeito sem ter a preocupação com sua imagem, b) confrontar-se com as situações sem querer controla-las por uma estratégia. Tal conhecimento será essencial, pois prepara o terapeuta para assumir-se frente a um grupo, com o mesmo objetivo de incitar à autonomia, flexibilidade e liberdade.