A clínica psicanalítica no hospital: a atualidade da inserção e os impasses da prática

Entidade:
SBPH

Coordenador(a):
Marcos Vinícius Brunhari

Financiador do coordenador:

Resumo:
A inserção e a prática da clínica psicanalítica na instituição hospitalar não se resumem ao exercício e aplicação de uma técnica. Esta clínica se orienta pelo discurso que se sustenta a partir da prática com os pacientes, com a equipe e com a instituição. Ao compreender que esse discurso é o que promove e possibilita o laço social, torna-se delineável a inserção do psicanalista no hospital em um além dos atendimentos e das interconsultas. Entender que a prática da clínica psicanalítica na instituição hospitalar não se restringe aos muros de certa terapêutica é o que fundamenta e viabiliza esta discussão. A questão que aqui se apresenta circunscreve a psicanálise em um campo distinto daquele que é orientado pelo saber anatômico e do que elege a tecnologia e a maquinaria como destinos. A clínica psicanalítica enlaça a escuta ao paciente e familiares, o trabalho multiprofissional e institucional em uma política orientada por uma ética própria.

Eixo:
II – Práticas Profissionais da Psicologia em contextos sem muros

Processo:
Processo Terapêutico / Processos de Investigação


Apresentações:

A Psicanálise e o Hospital: impasses éticos de um discurso
– Marcos Vinicius Brunhari
A psicanálise de orientação lacaniana propõe que a constituição da ciência pelo isolamento de um sujeito puro tem incidências sobre as estruturas sociais. Na medida em que esse isolamento se fundamenta pela universalização, uma prática pautada em métricas e evidências se torna inquestionável como fundamento de uma gestão. As coordenadas dessa gestão podem ser observadas contemporaneamente como embutidas à lógica gerencial das instituições. No que concerne ao que propomos neste trabalho, a gestão da redução de custos na saúde pode ser articulada a uma proposta de compreensão acerca do sofrimento radicalmente distinta daquela que a psicanálise sustenta. Ao pressupor que a clínica psicanalítica na instituição hospitalar não se encerra ao que, supostamente, é o aconselhável e terapêutico, entende-se que sua ética se orienta por uma outra via desde a qual o psicanalista é convocado a se posicionar. O posicionamento do psicanalista baseado em uma ética firma sua inserção no hospital em um lugar que enlaça a transferência, o debate com os saberes e a instituição. É deste lugar que a psicanálise envereda um outro discurso diferente daquele no qual se baseia uma gestão guiada pela universalização.

Sobre a presença do pensamento psicanalítico no campo da saúde
– Maria Lívia Tourinho Moretto
Com relação às diversas questões acerca da presença da Psicanálise no campo da saúde, este trabalho ressalta os valores de referência e orientação que tem o pensamento freudiano para os psicanalistas que atuam no referido campo. A partir de passagens da obra de Freud nas quais o autor apresenta considerações sobre o tema, analisamos a influência de seu pensamento nos pontos que indicam o valor do resgate da subjetividade no campo da saúde e a importância da sustentação das diferenças discursivas entre Psicanálise e Medicina para a realização de um trabalho legitimamente interdisciplinar e produtivo. Nesse sentido, realizamos uma discussão a respeito da revisão proposta por Freud sobre os conceitos de saúde e doença e tratamento, dando ênfase ao protagonismo do sujeito no campo da saúde. Concluímos que em um contexto onde a a subjetividade é tomada como um risco aos padrões de normalidade, a Psicanálise vem trabalhar com a hipótese de que o arriscado é, justamente, a exclusão da subjetividade.

Do contexto ao texto: Da doença ao sujeito
– Sheyna Cruz Vasconcellos
A psicanálise enfatiza a dimensão psíquica da linguagem e os efeitos da mesma sobre o sujeito. É na palavra e pela palavra que tudo se organiza, ganha nome, categoria, diagnóstico, remédio e tratamento. No contexto do adoecimento e hospitalização é costumeiro o convívio com o discurso da medicina que trabalha sob a lógica classificatória. O paciente, em um primeiro momento, aliena-se aos signos do contexto: doença, tratamento, morte, mutilação e tudo que evoca um real inominável. O sujeito impactado pela angústia e desprovido dos significantes que possam ancorar esta experiência fala de si a partir da apropriação da gramática da doença. Na literatura psicológica é comum dizer que existe o sujeito que tem uma doença e o sujeito que é a doença. A partir de uma escuta analítica o sujeito é convocado a produzir um texto inédito e singular que o permita reordenar o sofrimento do contexto. Constrói-se uma narrativa onde o sujeito se localiza quanto a sua história e ruptura provocada pelo adoecimento. Em termos práticos isto significa um paciente mais protagonista de seu tratamento e mais decidido quanto a seu mal estar existencial. A produção do texto descola o sujeito do contexto (doença).