Saúde mental e redes sociais: quando a vida online interfere na vida real

Entidade:
IBAP

Coordenador(a):
Catarina P. Sette

Financiador do coordenador:

Resumo:
Há um crescimento das interações humanas nos ambientes online com a revolução gerada pela nova forma de as pessoas se comunicarem por meio da internet, principalmente com o surgimento das redes sociais online. As redes sociais mostram rápido avanço e grande popularidade, podendo ser definidas como um serviço no qual um grupo de pessoas interage a partir de dispositivos virtuais e que permite que seus usuários criem um perfil (página pessoal). Nesse âmbito, alguns fatores são apontados para justificar a investigação em contextos virtuais em detrimento de ambientes sociais habituais, tais como, maior fluxo de informações adquiridas e velocidade com que elas são transmitidas; além da possibilidade de acessar dados em um contexto natural do indivíduo, por exemplo, sem estar em processo avaliativo. Em outras palavras, é possível investigar o funcionamento da pessoa em um ambiente que reflete seu verdadeiro eu, e não versões idealizadas, além da possiblidade de coleta de dados com as informações que a pessoa publicou no seu perfil. Nesse sentido, este trabalho visa apresentar a relação entre redes sociais e saúde mental. Para tanto, o primeiro trabalho demonstra como os traços histriônicos estão relacionados as variáveis do Facebook (isto é, número de amigos, fotos, postagens, entre outros). Na sequência, será apresentado o fenômeno denominado como Fear of Missing Out (FoMO – medo de estar de fora) voltado para as redes sociais, além de uma ferramenta avaliativa. Por fim, o terceiro trabalho objetiva apresentar uma revisão sistemática que avaliou a aplicabilidade e os desafios do digital phenotyping no campo da saúde mental.

Eixo:
II – Práticas profissionais da psicologia em contextos sem muros

Processo:
Processos de Avaliação


Apresentações:

Investigando funcionamento histriônico e perfil do Facebook
– Catarina P. Sette (Coautor: Lucas de Francisco Carvalho)
A literatura demonstra a relação entre traços tipicamente relacionados ao transtorno de personalidade narcisista (TPN) com diversas variáveis do Facebook (i.e. passive data), principalmente número de amigos. Os critérios diagnósticos para esse transtorno ajudam a compreender esses estudos, pois tem como ponto central a necessidade de atenção/reconhecimento e pedidos de admiração excessiva. No entanto, considerando que a busca por atenção, popularidade, foco e reconhecimento não é típico somente no TPN, esses dados permitem hipotetizar que o TP histriônico (TPH) também demonstraria relações com as variáveis do Facebook. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo investigar a relação entre traços tipicamente relacionados ao TPH e variáveis do Facebook. Participaram 131 usuários do Facebook (93 mulheres) de 18 a 64 anos (M = 31,13 anos, DP = 9,23). Para tanto, foi aplicado a dimensão Necessidade de Atenção do Inventário Dimensional Clínico da Personalidade 2 (IDCP-2), o Inventário de Problemas Interpessoais – Distúrbios da Personalidade (IIP-PD) e avaliadores completaram um questionário relacionado a 31 dados passivos do Facebook. As correlações de Pearson mostraram um padrão complexo, mas quando controlado o nível geral de patologia da personalidade, usando o ponto de corte do IIP-PD, foi observado um padrão de correlação mais claro, revelando maiores correlações na amostra com funcionamento mais patológico da personalidade. As diferenças encontradas nas correlações de acordo com os grupos são explicadas com base no Paradox de Simpson. Os dados sugerem as características de necessidade de atenção e busca por atenção são as principais para explicar a relação entre TPH e varáveis do Facebook.

FoMO: como avaliar o medo de ficar de fora nas redes sociais?
– Naira R. S. Lima (Coautora: Bárbara Letícia Ferrari e Francine Queluz)
FoMO é definido como uma apreensão generalizada que os outros possam ter experiências gratificantes das quais o sujeito em questão está ausente, isto é, a pessoa tem o desejo de permanecer continuamente conectada com o que os outros estão fazendo. Pode-se considerar, então, que o FoMO está relacionado às motivações humanas, afetos e comportamentos. O fenômeno também apresentou relações com outras variáveis, principalmente atreladas à saúde psicológica e bem-estar, como déficits de algumas necessidades psicológicas, são elas, a de pertencimento, de aprovação e de popularidade, bem como menor satisfação com a vida. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar um instrumento para avaliar FoMO nas redes sociais, tais como Facebook, Instagram, Snapchat, entre outras. Para tanto, o estudo se dividiu em duas etapas. Na primeira foi realizada revisão de literatura, criação de itens, análise de juízes e coleta piloto. Na etapa posterior, com o instrumento finalizado, procedeu-se a coleta e análises. O instrumento apresentou adequação psicométrica. Considerando o aumento das relações interpessoais nos ambientes virtuais é importante que os profissionais da área da saúde mental estejam atentos aos fenômenos gerados por essa nova forma de interação e desenvolvam estratégias a fim de avaliar e prevenir os efeitos negativos provenientes do uso excessivo de internet.

Digital phenotyping no campo da saúde mental: uma revisão sistemática
– Midiã Beatriz Candido Guillen (Coautor(a): Giselle Pianowski e Lucas de Francisco Carvalho)
Digital phenotyping é a quantificação in-situ do fenótipo humano, a partir de dados dos dispositivos digitais do indivíduo. Para avaliar a aplicabilidade e os desafios do digital phenotyping no campo da saúde mental foi realizada uma revisão sistemática da literatura. Para tanto, foi realizada uma busca com os descritores: “digital phenotyping” (e variações) e “Mental Health”. Foram encontradas 457 publicações depois que as duplicatas foram removidas. A partir da leitura do título e resumo, bem como dos critérios de inclusão, 14 artigos foram selecionados para análise na íntegra. Diversos benefícios e desafios foram encontrados, embora normalmente os artigos não fossem para um transtorno mental específico, mas para doenças metais em geral, como por exemplo, a esquizofrenia. Os problemas mais recorrentes incluíram perspectivas éticas, tecnológicas e perspectivas centradas no usuário, além da necessidade de investigação da eficácia do digital phenotyping no campo da saúde mental. Por fim, destaca-se o potencial benéfico da aplicação do digital phenotyping no campo da saúde mental, especialmente nos transtornos psiquiátricos.