Da educação especial à educação inclusiva: a psicologia e a educação de educandos com deficiência no Brasil

Entidade:
ABRAPEE

Coordenador(a):
Mitsuko Aparecida Makino Antunes

Financiador do coordenador:

Resumo:
A educação de pessoas com deficiência foi tema recorrente ao longo do século XX, no Brasil e no mundo, e permanece em acirrado debate nesses anos iniciais do século XXI. A finalidade desta mesa-redonda é cotejar experiências empreendidas entre as décadas de 1930 e 1980, em Minas Gerais e Mato Grosso, com a discussão atual em pesquisas recentes sobre o tema, em especial aquelas que trazem discursos de educadores. A psicologia tem lugar privilegiado nesse debate, seja como fundamento teórico, seja pela prática de seus profissionais. A contribuição de Helena Antipoff, pioneira nesse campo no Brasil, será tratada a partir de sua obra escrita, que expressa a articulação entre as pesquisas por ela empreendidas e as experiências por ela desenvolvidas em Minas Gerais. No Estado de Mato Grosso, nas décadas de 1970 e 1980, a ação professional da psicologia foi base para as políticas de organização e institucionalização da educação especial, avaliação classificatória dos educandos e formação de educadores e pais. Essas experiências serão cotejadas com os dados relativos aos discursos dos educadores sobre a educação de pessoas com deficiência numa perspectiva inclusive, presentes em pesquisas recentes na área da psicologia e no campo da educação.

Eixo:
Eixo I – A psicologia e a superação das desigualdades no acesso e qualidade da formação em psicologia

Processo:
Processos Educativos


Apresentações:

De “anormais” a “excepcionai”: um estudosobre a caracterização da deficiência intellectual entre as décadas de 1930 e 1970
– Erika Lourenço
No último século o sistema educacional brasileiro apresentou diferentes formas de educar crianças com deficiência intelectual. Caminhou, de um modelo que privilegiava a criação de escolas especiais específicas para a educação de crianças com diferentes deficiências, para um modelo que propunha escolascada vez mais capazes de acolher e educartodas as crianças, inclusive aquelas com deficiências, em um mesmo contexto. Em todo este processo de construção daquilo que hoje denominamos um modelo inclusivo de escola, a necessidade de compreender as diferenças entre os escolares foi uma constante.Sucederam-se estudos acerca da criança com deficiência intelectual, considerando as causas e a caracterização da deficiência, bem como as estratégias mais indicadas para a sua educação escolar. A obra escrita pela educadora e psicóloga Helena Antipoff no Brasil, entre as décadas de 1930 e 1970, objeto deste trabalho, ilustra de forma representativa esse processo. Um conjunto de artigos escritos pela autora acerca da “educação do excepcional” demonstra como, no intervalo de 40 anos, conceitos como os de“anormal” e“retardado”, fundamentados em uma visão médico-biológica da deficiência intelectual, foram gradativamente substituídos por conceitos como o de “excepcional”, que considerava tanto os fatores inatos como aqueles de ordem psicossocialcomo coadjuvantes na causação da deficiência intelectual. As mudanças nas formas de compreender a deficiência intelectual tiveram impacto direto nas estratégias educacionais propostas para este público – suas potencialidades passaram a ser mais evidenciadas do que suas limitações e, com isso, tornou-se cada vez mais possível a construção da ideia de uma escola inclusiva.

Psicologia e Educação Especial em Mato Grosso
– Jane Teresinha Domingues Cotrin
A Educação Especial foi um locus importante de atuação profissional nas décadas de 1970 e 1980 em Mato Grosso. Os profissionais atuaram em escolas especiais e na Secretaria de Estado da Educação. Diferente da história que se viu no país, as escolas especiais surgiram concomitantemente às políticas dos governos federal e estadual que criaram as classes especiais. Nesta esfera, a atuação profissional se deu em cargos de gestão – com a organização e institucionalização dos espaços de aprendizagem educacional especializada; nos processos avaliativos para classificar as crianças para os diferentes locais que devem ser encaminhadas a partir dos graus detectados de deficiência e em projetos de formação profissional, em que um grupo de profissionais percorre o vasto território do estado, na perspectiva de orientar o trabalho de educadores e pais. Lentamente, a educação de crianças com deficiência ganha visibilidade e, no estado de Mato Grosso, contou com a participação efetiva dos profissionais da Psicologia.

Do discurso à prática: contradições de professores em pesquisas sobre a educação inclusiva
– Mitsuko Aparecida Makino Antunes
Tem sido recorrente, nas pesquisas realizadas sobre educação inclusiva, pelas áreas da psicologia e da educação, tendo professores como sujeitos, o discurso de concordância com a educação inclusiva; entretanto, quando são aprofundadas as questões sobre a prática efetiva da inclusão em sala de aula, emergem respostas que se contrapõem ao discurso inicial, geralmente relacionadas aos empecilhos, dificuldades e impossibilidade de realização, de fato, da concretização dessa proposta. As respostas, em geral, fazem referência ao número de alunos em sala de aula, à necessidade de profissionais de outras áreas para assistência ao educando (particularmente o psicólogo), aos recursos materiais e didático-pedagógicos, às condições salariais e de trabalho, mas especialmente à formação do professor que não teria sido “preparado” para a tarefa inclusiva. A contradição entre esses diferentes e contraditórios conteúdos do discurso revela elementos significativos da prática docente e constitui-se como um dos principais entraves para a materialização de uma escola efetivamente inclusiva. Pretende-se expor os resultados de pesquisas realizadas no Programa de Estudos Pós-graduados em Educação: Psicologia da Educação, da PUCSP, nos últimos cinco anos, que têm a educação inclusiva como tema e professores como sujeitos das pesquisas, buscando evidenciar coerência e contradição entre discurso e prática. Finalmente, propõe-se cotejar os dados dessas pesquisas recentes com os dados de pesquisas historiográficas sobre a educação de pessoas com deficiência no Brasil, nas décadas de 1930 a 1980.