Diálogos sobre a formação: tensões, retrocessos e os impactos sobre o futuro da Psicologia

Entidade:
ABEP

Coordenador(a):
Eduardo Antunes

Financiador do coordenador:

Resumo:
É sempre complicado tecer considerações sobre a Formação em Psicologia, principalmente devido à quantidade de atravessamentos que uma área que se dedica à integralidade do ser humano tem. Mais ainda se intensificam as complicações quando falamos dessa Formação em um contexto como o atual panorama brasileiro. Sob o jugo de um golpe institucional, ou seja, em um regime de exceção que tenta se mascarar de democracia e se legitimar todos os dias, estamos passando por um processo onde as polarizações são constantes em todos os campos da vida. Não seria diferente com a Psicologia, menos ainda com a Formação. É de suma importância que espaços potentes de encontro se proponham a discutir de forma responsável e crítica as bases da nossa formação e os impactos que as decisões de gabinetes ilegítimos e togas interesseirasvão ter sobre a nossa atuação enquanto estudantes, professoras/professores, psicólogas/psicólogos e principalmente como cidadãs/cidadãos. Relevante também ressaltar quais movimentos vêm sendo feitos no sentido da resistência e da luta pela manutenção e pelo fortalecimento de espaços democráticos de discussão/decisão. Todo esse emaranhado de tensões e ansiedades compõe e constitui a multifacetada identidade da Psicologia, que começa a se (re-des)construir desde a graduação e continua ad infinitum. Estudante/Professora/Professor/Profissional: Qual a sua contribuição pra esse debate?

Eixo:
I – A psicologia e a superação das desigualdades no acesso e qualidade da formação em psicologia

Processo:
Processos Formativos de Psicólogos


Apresentações:

Tensões à flor da pele: formação X prática profissional em tempos de retrocessos generalizados
– Eduardo Antunes de Matos
Não é de hoje que a Psicologia vem sofrendo tentativas de intervenção por parte de setores conservadores e reacionários, que veem na ciência psicológica a possibilidade de referendar posições excludentes e que violam os direitos humanos. Esses discursos estão presentes em diversos espaços da sociedade, o que se pode comprovar em exemplos como o Projeto de Lei conhecido como “cura gay” ou na decisão judicial que tentou sustar a Resolução 001/99 do CFP no ano de 2017. Ultimamente a interferência e a disputa no sentido de hegemonizar o discurso excludente apareceram também, de forma saliente, nos movimentos de reforma relacionados às políticas públicas, tendo-se como exemplos característicos do retrocesso: a proposição do “Programa Criança Feliz” no âmbito do Sistema Único de Assistência Social; e as mudanças nas formas de atenção relacionadas a pessoas que fazem uso problemático de substâncias psicoativas dentro do SUS. Ambos os casos configuram um anacronismoímpar do ponto de vista da ação nas políticas públicas e que terá influência direta na atuação de psicólogas e psicólogos em todo o Brasil. Se há disputa no campo da atuação em psicologia, isso se reflete também no campo da formação.Embora hajam denúncias variadas sobre uma distância abissal, academia e intervençãoprofissional se emaranham num processo de imanência que no mais das vezes acaba sendo engolido pela roda do cotidiano.Essas tensões se manifestam progressivamentee é necessário atenção ao papel já da/do estudante nessa complexa configuração e consequentemente no que potencialmente a Psicologia representa(rá) para a sociedade.

Impacto das revisões das Diretrizes curriculares dos cursos de psicologia: a importância da participação estudantil e o contexto político atual
– Lázaro Edson de Souza
A proposta de revisão das diretrizes curriculares dos cursos de psicologia, pensada pelas instituições Associação brasileira de ensino de psicologia, Conselho Federal de Psicologia e a Federação Nacional dos Psicólogos, era poder dizer ao Ministério da Educação por meio do Conselho Nacional de Saúde que nossa categoria também quer discutir os rumos que nossa profissão terá e poder decidir qual o modelo de formação queremos ter, impedindo que sejam tomadas decisões que precarize o trabalho do psicólogo no país. O objetivo é manter o debate das DCN e garantir sua qualificação teórico-metodológica, ética e técnica, e da atualização desse processo. (abep, 2018). Quando a categoria se coloca a discutir suas bases de formação, reforça o compromisso ético e político que a psicologia tem com a formação. A participação dos estudantes nesse processo é de importância singular à época que estamos vivendo. A proposta é discutir com os estudantes os princípios da psicologia que aponte as contribuições da psicologia para a sociedade, apresentando o grande valor da profissão no país e na América latina.

A batalha do imaginário: a formação estudantil do psicólogo numa educação mercantilizada
– Daniel de Oliveira Nery Costa
Atualmente, a Psicologia brasileira atravessa um momento importante de revisão. Durante o ano de 2018, suas entidades representativas (ABEP, CFP, FENAPSI) conduziram um amplo processo de discussão acerca das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Esse processo está contextualizado pelas solicitações que o momento político faz às diversas modalidades do saber, ao mesmo tempo em que as condições de produção do conhecimento são confrontadas com a possibilidade da mercantilização da educação ser conduzida ao seu paroxismo. Partimos da ideia de que há uma pauta especificamente estudantil nos conflitos da Psicologia. A questão em debate é saber de que forma as instituições de ensino superior podem acolher conteúdos, entidades e práticas capazes de fornecer ao estudante em formação, recursos que possibilitem resistência frente à descaracterização científica e política da Psicologia.