Medicalização e Patologização na Educação – enfrentamentos da Psicologia

Entidade:
ABRAPEE

Coordenador(a):
Roseli Fernandes Lins Caldas

Financiador do coordenador:

Resumo:
Temáticas voltadas à Medicalização e Patologização da Educação e da Sociedade têm alcançado amplo espaço de debate entre profissionais das áreas de saúde e educação. Fenômeno entendido como a transformação de questões de ordem social em biológica, na tentativa de encontrar no campo médico as causas e soluções para problemas de natureza social, econômica, política, educacional. A Educação tem sido gravemente afetada por estas concepções que atribuem a distúrbios, transtornos ou déficits as causas das dificuldades no processo de escolarização. Os absurdos índices, nem sempre comprovados, de diagnósticos de doenças de crianças e jovens têm sido responsáveis pelo aumento vertiginoso do consumo de fármacos, que são apresentados como solução para os problemas vividos na escola. Esta mesa tem como objetivo discutir diferentes nuances do tema da Medicalização nos processos educacionais, considerando: (1) a função política da medicina externada no saber-poder médico, (2) a concepção de medicalização nos espaços de inclusão escolar e (3) a potencialização como antídoto à expansão da Medicalização nos espaços de escolares.

Eixo:
II – Práticas Profissionais da Psicologia em contextos sem muros

Processo:
Processos Educativos


Apresentações:

Escolarização e Medicalização – desafios à Psicologia Escolar
– Roseli Fernandes Lins Caldas
Considerando-se que qualquer tipo de reducionismo é temerário, com tendência a nos induzir a erros de compreensão, é extremamente perniciosa a associação direta do que não está adequado às normas sociais ou educacionais a uma suposta causalidade orgânica, expressa no adoecimento do indivíduo. Os processos de escolarização, muitas vezes, tornam-se terreno fértil à medicalização, uma vez que são estabelecidos parâmetros em termos de competências, habilidades e períodos de tempo de aprendizagem, ficando sob suspeita de algum transtorno ou distúrbio, os alunos que não se ajustam ao esperado. Partindo-se das concepções da Psicologia Histórico-Cultural é de extrema importância a promoção de discussões que apontem para a inversão dessa lógica medicalizante, aguçando-se o olhar para as potencialidades das crianças/adolescentes em oposição à atribuição de faltas ou insuficiências. Neste sentido a atuação do Psicólogo escolar pode ser de relevância imprescindível. Nesta apresentação serão apontadas alternativas potencializadoras que podem ser tidas como antídotos às práticas medicalizantes.

Saber-poder médico na Educação?
– Eduardo Fraga de Almeida Prado
As expressões medicalização e patologização designam processos que transformam, artificialmente, questões não médicas em problemas médicos. Problemas de diferentes ordens são apresentados como ‘doenças’, ‘transtornos’, ‘distúrbios’ que escamoteiam as grandes questões políticas, culturais, afetivas que afligem a vida das pessoas. Questões coletivas são tomadas como individuais; problemas sociais e políticos são tornados biológicos. O termo ‘medicalização’ faz ainda referência ao processo que se caracteriza pela função política da medicina e pela extensão indefinida e sem limites da intervenção do saber médico. Neste sentido, o saber-poder médico e de diferentes especialistas da área da saúde contribuem para que o fenômeno da medicalização incida também no âmbito escolar. Desta forma, questões centrais como o próprio sistema de educação ou as relações de ensino-aprendizagem são relegadas a segundo plano enquanto crianças são culpabilizadas por sua suposta incapacidade para aprender. O presente trabalho tem por objetivo apresentar os pressupostos que alicerçam o discurso da medicalização com vistas a auxiliar na construção de uma visão crítica nos diferentes profissionais do campo da educação e da saúde, sensibilizando-os para a promoção de práticas que não tenham como pressuposto e finalidade a culpabilização e segregação de alunos,mas sim a inclusão destes levando-se em consideração suas potencialidades.

Formação de Professores e medicalização
– Marcos Vinícius de Araújo
A escolarização de alunos na perspectiva da educação inclusiva tem desafiado os espaços escolares a construírem novas lógicas de ensino. Nesse contexto, tema que vem ganhando grande importância é a questão da medicalização, fundamentada na lógica que patologiza as relações educacionais. A formação continuada tem se configurado como uma possibilidade de pensar as demandas e os processos de escolarização, bem como este fenômeno de grande relevância quando se trata da inclusão educacional. Esse trabalho deriva de um grupo de pesquisa intitulado “A escola nos processos educacionais inclusivos: um estudo em territórios de alta vulnerabilidade social” e tem como objetivo identificar e compreender as principais necessidades dos profissionais do ensino regular em relação à inclusão dos alunos de uma escola em situação de vulnerabilidade social, aprofundando a discussão sobre a medicalização. Os resultados parciais demonstram que os professores reconhecem a necessidade de formação continuada para a educação inclusiva. Em seus discursos, verificou-se que as necessidades da inclusão são atravessadas pelo tema da vulnerabilidade de modo muito presente. Identificou-se ainda, a necessidade de apoio estrutural, especializado e formativo. Percebeu-se também a necessidade de reflexão sobre a questão da medicalização, que muitas vezes se confunde com a utilização de medicamentos. Assim, se faz necessária a implementação de políticas públicas que resultem em práticas inclusivas que considerem a questão da medicalização, tanto para a sala de aula quanto para os profissionais que atuam nas instituições de ensino.