Entidade:
ABRAPEE
Coordenador(a):
Roseli Fernandes Lins Caldas
Financiador do coordenador:
–
Resumo:
As migrações constituem-se em um processo de mudança de uma cultura para outra, podendo ocorrer entre países ou entre regiões do mesmo país. Muitas vezes, este processo envolve rupturas e adaptações abruptas e importantes no espaço e nas vivências do sujeito. Este Simpósio se propõe a apresentar um estudo brasileiro que compõe uma pesquisa internacional fundamentada na ecologia do desenvolvimento humano, conceituada por Bronfenbrenner. O estudo parte do pressuposto de que uma transição bem-sucedida agrega a capacidade da escola, da família e da comunidade em apoiar o processo de aculturação da criança, desde o início da transição. Tem como objetivo compreender como crianças migrantes fazem a integração entre um ambiente escolar novo e os contextos culturais de suas comunidades de origem, conseguindo “florescer” na escola, ou seja, como a despeito de tantas alterações, adaptações e perdas, as crianças conseguem ser bem-sucedidas na escola, em especial nos anos iniciais em que ocorre o processo de alfabetização. Inicialmente será apresentado o escopo geral da pesquisa, dando-se ênfase à proposta metodológica inovadora em que pesquisadores filmam um dia na vida de crianças migrantes bem-sucedidas na escola. Em seguida serão discutidos dados de algumas crianças participantes, apontando-se as principais interações entre a cultura de origem e a nova, isto é, quais elementos de sua cultura a criança leva para a escola e quais aprendizagens da escola ela leva para a família, base de sua cultura original.
Eixo:
II – Práticas Profissionais da Psicologia em contextos sem muros
Processo:
Processos Educativos
Apresentações:
Transição cultural e mediação entre a nova cultura e a cultura de origem: a história de um menino sírio
– Roseli Fernandes Lins Caldas (Coautoras: Lara Di Mauro Pedro e Letícia dos Santos Gouveia)
Como parte do estudo “Um dia na vida de uma criança: crianças migrantes em transição”, a apresentação deste estudo de caso registra um dia na vida de um menino palestino de 8 anos, em situação de vulnerabilidade, aluno de escola pública na cidade de São Paulo, cujo processo de escolarização é considerado exitoso. O ingresso e a convivência na escola foram fundamentais para seu processo de transição, pois por meio de gestos e brincadeiras foi estabelecendo ricas trocas com as outras crianças, elemento fundamental para seu processo de aprendizagem, caracterizado como bem-sucedido. Na família, atuava como ponte entre as duas culturas, uma vez que entre os familiares era o que melhor entendia a língua portuguesa. Dentre os elementos que possibilitaram o desenvolvimento exitoso do processo de transição, destacaram-se: a influência mútua entre as vivências experimentadas na escola e na família; seu papel como auxiliar na inserção da família no ambiente cultural brasileiro incluindo a tradução do árabe para o português em situações cotidianas; e a satisfação da criança diante de oportunidades para a utilização de aprendizagens escolares em seu cotidiano familiar.
Um dia na vida: crianças migrantes em transição
– Cláudia Stella (Coautor(a): Thais La Rosa e Guilerme Silveira Caltabellotta
A pesquisa teve como objetivo analisar as experiências escolares de crianças migrantes que cursam as primeiras séries do ensino fundamental e que vivem atualmente em São Paulo. As crianças participantes foram identificadas como adaptadas e obtendo sucesso no novo contexto ecológico. A pesquisa buscou desenvolver uma compreensão sobre como essas crianças se adaptam e vivem interculturalmente. Como método, este estudo qualitativo observacional usou técnicas fotográficas e de filmagem digital, observações e caderno de campo, entrevistas e análises temáticas, a fim de entender um “Dia na vida” dos sujeitos em transição, buscando a compreensão de como eles navegam em seu ambiente escolar relativamente novo e nos contextos culturais de suas comunidades de origem. As informações foram organizadas em categorias de análises.Como resultados, identificamos que a criança migrante bem-sucedida em seu ambiente escolar, além de um repertório próprio, conta com o apoio não só de sua família, como também de educadores e profissionais da educação, foi possível identificar que estas conseguiram preservar a identidade da cultura de origem e construir uma identidade intercultural, conciliando com grande habilidade os valores das duas culturas.
Música e a transição cultural: a influência intergeracional
– Susete Figueiredo Bacchereti (Coautor(a): Bruno Bertoni Giusti Roque e Juliana Muniz Nazima)
O presente trabalho abordara o caso de uma criança migrante bem-sucedida no âmbito escolar, que fez parte da pesquisa “Um dia na vida”. Trata se de uma menina de seis anos que vive com seus pais e sua meia-irmã de 16 anos, na Zona Norte de São Paulo. A família é do nordeste do Brasil. Seus pais costumam sair cedo para o trabalho e a criança passa o dia na casa da avó.Através da filmagem foi possível perceber que a menina e a avó possuem uma boa relação afetiva e compartilham momentos positivos no cotidiano entre eles a música a qual durante quase o tempo todo de filmagem na casa da avó, elas conversavam, brincavam, e, sobretudo, cantavam. A avó resgata cantigas tradicionais brinca com rimas e com a musicalidade, sendo a música o tempo inteiro presente nos momentos entre elas; mesmo ao realizar outras atividades e ao brincar, a avó traz a musicalidade em sua fala. Tal característica também aparece no contexto escolar onde sempre que tem oportunidade canta junto com seus colegas de turma.Considerando que a música faz parte do desenvolvimento humano e social, muitas vezes utilizada como meio de transmissão cultural, ela compõe um conjunto de significados sociais e culturais que podem apoiar o indivíduo em seu processo individual de socialização. No caso do presente trabalho, a música vem como possibilidade de apoio intergeracional para uma transição bem-sucedida para a escola. A integração das culturas presentes na escola e na família se dá muitas vezes por meio de processos de imitação, de forma a influenciar mutuamente as práticas familiares no cotidiano e os conhecimentos e vivências experimentados na escola, resultando em uma interlocução cultural positiva.