Por que o atendimento psicológico no contexto hospitalar é uma necessidade do doente contemporâneo?

Entidade:
SBPH

Coordenador(a):
Glória Heloise Perez

Financiador do coordenador:

Resumo:
A cultura contemporânea da sociedade de consumo, presença massiva da tecnologia e da judicialização, transformou o conceito de vida e morte, a forma como vivemos, como morremos, como nos relacionamos com o outro , com nosso corpo e como adoecemos. Transformou a medicina e a relação do sujeito com sua saúde, a relação médico–paciente, os processos diagnósticos, os tratamentos, os contextos de assistência à saúde, bem como a equipe assistencial. A assistência à saúde sofreu grandes mudanças, pois se por um lado o avanço da medicina trazido pelo desenvolvimento da tecnologia possibilita tratamentos altamente eficazes que aumentam a sobrevida, viabilizam o prolongamento da vida com qualidade em situações fora de possibilidades terapêuticas e o controle de doenças crônicas, por outro lado é convocada a trabalhar para reduzir os seus altos custos. O contexto hospitalar vem se consolidando como um campo de atuação do psicólogo desde a década de 1980, integrando a equipe multiprofissional, uma vez que para além do cuidado com o corpo, cuidar da experiência emocional, subjetiva passou a ser uma necessidade terapêutica importante do doente contemporâneo diagnosticado e tratado pela medicina tecnológica, mercantilizada e judicializada. Trataremos neste Simpósio da caracterização da nova experiência subjetiva de adoecimento mediada pela medicina tecnológica e das novas formas de assistência à saúde , bem como das peculiaridades da demanda de trabalho que se coloca para o psicólogo neste contexto.

Eixo:
II – Práticas Profissionais da Psicologia em contextos sem muros

Processo:
Processos Terapêuticos


Apresentações:

Medicina tecnológica, mercantilizada e judicializada: uma nova experiência subjetiva de Adoecimento. O que muda na atuação do Psicólogo?
– Glória Heloise Perez
A cultura contemporânea da sociedade de consumo, presença massiva da tecnologia e judicialização, transformou profundamente nossa vida. Modificou o conceito do que é vida e morte. E, a forma como vivemos, como nos relacionamos com nosso corpo, com o outro e também como adoecemos. Transformou a medicina e a relação do sujeito com sua saúde. A medicina protocolar propõe o rastreamento de doenças, de tal forma que o sujeito vive a possibilidade de ter o diagnóstico de uma doença grave, de submeter-se a cirurgias e a procedimentos terapêuticos altamente complexos e invasivos, sem nunca ter tido sequer um sintoma, nenhum mal-estar. Isto implica numa experiência subjetiva completamente diferente de adoecimento, de tratamento e de relação com a equipe de saúde. O diagnóstico realizado sem sinais percebidos pelo sujeito, pode ser vivido como uma experiência disruptiva. A aceitação da doença e adesão ao tratamento demanda trabalho de integração psíquica dessa experiência. Instaura-se relação de dependência absoluta da assistência médica, atualizando-se a relação mãe-bebê. Demanda-se que a equipe de saúde ajude o paciente no trabalho psíquico de integração. A assistência fragmentada oferecida pela medicina contemporânea tecnológica, mercantilizada e judicializada, além de desfavorecer este processo, pode promover uma nova experiência de intrusão. Conclui-se que na experiência subjetiva de adoecimento da medicina contemporânea enquanto o corpo fica preservado do sofrimento, este se sobressai no plano psíquico. Isto requer cuidado especial da experiência emocional, subjetiva. Caracteriza-se o atendimento psicológico no contexto hospitalar como importante e necessário para a assistência adequada às necessidades terapêuticas destes pacientes.

O futuro da assistência à saúde e a nova demanda de trabalho do psicólogo no contexto hospitalar
– Ana Merzel Kernkraut
A gestão de instituições de saúde apresenta um novo desafio para todos os participantes deste sistema: oferecer um serviço de saúde de excelência, com redução de custos, sendo mais efetivo, com foco na promoção da saúde da população. Este conceito proposto pelo Institute for Health Improvement (IHI) tem estimulado organizações de saúde a propor novos modelos de atenção a saúde. Isto significa ter processos focados na segurança do paciente, com eficiência operacional e considerando a experiência do paciente com o serviço recebido. Como nós, psicólogos, podemos colaborar para que seja possível a prática deste modelo? Dados do IBGE apontam a população de idosos deve passar de 7,4% da população (2013) para 26,7% em 2060, ou seja, um quarto da população terá mais que 65 anos e com isso teremos mais pessoas com doenças crônicas dentro do sistema de saúde. Esta realidade nos convoca a pensar em formas de atenção na saúde que favoreçam um envelhecimento saudável e com qualidade de vida, bem como propor estratégias de atuação no contexto hospitalar dentro dos princípios do modelo proposto pelo IHI.

Cuidados paliativos: uma nova realidade assistencial. O que cabe ao psicólogo?
– Denise Regina Disaró
O avanço tecnológico e cientifico dos últimos anos, tem promovido a sobrevivência de pessoas que, até poucos anos atrás, morreriam. Muitas vezes, isso é benéfico tanto para o paciente como para sua família. Em outras, porém, pode apenas prolongar sofrimento. Assim é imprescindível que se opte por cuidados paliativos como uma “nova” (?) modalidade de assistência, com vistas à promover a qualidade de vida de pacientes que sofrem de doenças graves, evolutivas e de difícil prognóstico, prevenindo e aliviando seu sofrimento (biopsicossocial e espiritual), bem como o de seus familiares. Uma mudança de paradigma é condição para que esse tipo de cuidado ocorra por parte de toda a equipe de saúde. Do ponto de vista psicanalítico, o psicólogo necessita exercitar sua capacidade de continência para com o sofrimento multidimensional do paciente, de seus familiares, da equipe e dele mesmo, já que frequentemente se depara com situações ou momentos em que há altos níveis de angústia frente à possibilidade ou proximidade da morte, defesas (incluindo as mais arcaicas) são acionadas, e as pessoas envolvidas podem perder (mesmo que momentaneamente) diversas funções egoicas e sofrerem alterações no self. Assim, o psicólogo necessita, muitas vezes assumir temporariamente tais funções, exercendo função mediadora e de objeto transformacional, até que o sujeito consiga estar pronto para reassumi-las. Isto requer, sobretudo, uma postura teórico-técnica e sobretudo ética que permita manter o paciente como principal alvo dos cuidados em situações altamente mobilizadoras para todos: paciente, família e equipe, da qual o psicólogo faz parte.